Scrum é tóxico para times de Produto? Depende…
Se tem uma coisa que sempre aparece nas conversas sobre produtos digitais é o Scrum. Mas deixa eu te contar: Scrum e produto podem não combinar tão bem.
Calma, não tô dizendo que Scrum é ruim. Longe disso! E quem me segue a algum tempo sabe bem que sou defensora desse Framework. O problema é como ele é usado – ou melhor, como ele não é usado do jeito certo.
Quando o foco é só entregar o próximo item do backlog, a visão estratégica e os resultados ficam pelo caminho.
Hoje quero te mostrar por que isso acontece e o que podemos fazer para sair desse ciclo vicioso.
Scrum não é gestão de Produto
Vamos começar com o básico: o Scrum é um framework de entrega ágil. Ele ajuda times a entregar de forma iterativa e incremental, com ciclos curtos, revisões constantes e muita colaboração. Mas…Gestão de produto não é só sobre entrega. Gestão de produto é sobre impacto.
Quando uma empresa adota Scrum achando que ele vai resolver todos os problemas de gestão de produto, o que acontece? A equipe entra num loop infinito de sprints, onde o que importa é entregar mais rápido – não entregar certo.
E isso é perigoso, porque:
O backlog vira um buraco sem fim de tarefas desconectadas da estratégia.
As métricas de negócio ficam de lado, e o foco passa a ser velocity e throughput.
As entregas acontecem, mas o impacto real no usuário ou no negócio nem sempre é medido.
O problema está na aplicação (e na expectativa)
Scrum tem suas virtudes, mas, muitas vezes, ele é mal aplicado. O foco exagerado em entrega pode criar problemas como:
Priorizar a velocidade sobre o impacto: “Quantos pontos de história entregamos nessa sprint?” Quantas vezes essa pergunta já dominou as retrospectivas? O problema é que velocity não paga as contas. Não adianta entregar rápido se o que foi entregue não move métricas relevantes.
Confundir eficiência com eficácia: A equipe pode estar super eficiente em completar tarefas, mas será que essas tarefas são as mais importantes? Quando o foco é só no "fazer", o "por que" e o "para quem" se perdem no processo.
Desconectar produto e negócio: Em times que só “seguem o Scrum”, o backlog muitas vezes vira um depósito de demandas, e a estratégia do produto – a visão maior – fica nebulosa. Isso cria um abismo entre o time de produto e o resto da empresa.
Scrum vai funcionar em produtos, mas…
Algumas empresas conseguem usar os princípios do Scrum para criar ciclos curtos de aprendizado e impacto. Mas, para isso, é preciso ir além do framework.
Aqui estão algumas práticas que podem salvar seu time do ciclo infinito de entregas sem propósito:
Outcome-Driven Roadmaps: Troque roadmaps baseados em entregas por roadmaps focados em resultados. Pergunte: o que queremos mudar no comportamento do usuário ou nas métricas do negócio?
Continuous Discovery: Inclua a descoberta contínua no seu processo. Valide hipóteses, entenda problemas reais e mantenha a visão conectada ao usuário.
Hipóteses claras: Cada item do backlog deve responder a uma pergunta: “O que estamos tentando resolver e como sabemos que isso funciona?”
Acompanhar as métricas de impacto: Deixe velocity e throughput para trás. O que importa são métricas como retenção, conversão, NPS – algo que realmente reflita o impacto do produto.
Scrum fez 30 anos. E agora?
Você sabia que o Scrum faz 30 anos este ano? E a grande pergunta que devemos fazer é: ele ainda é o modelo mais relevante para times de produto?
O mundo mudou. Produtos mudaram. Clientes mudaram. Será que estamos validando a relevância do Scrum no cenário atual? Ou estamos apenas repetindo o que foi ensinado porque é o padrão do mercado?
Vá além do Framework
Scrum, Kanban, OKRs… Ferramentas e frameworks são só isso: ferramentas. Elas ajudam, mas não são suficientes por si só. O que realmente faz a diferença é:
Ter uma visão clara do impacto que queremos gerar.
Focar em resultados, não só em entregas.
Garantir que produto, negócio e usuários estejam sempre conectados.
Precisamos ampliar nossa mentalidade.
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